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O CÁLCIO DO LEITE:

A importância do cálcio na alimentação está fundamentada nas principais funções deste micronutriente na formação e na manutenção da massa óssea, já que 99% do cálcio corporal encontra-se no esqueleto. O cálcio também atua na contração muscular, na coagulação sanguínea, na condução de impulsos nervosos e na permeabilidade das membranas.

A necessidade do cálcio difere de acordo com sexo e faixa etária e depende do estado fisiológico. É na infância e na adolescência que o cálcio é mais necessário por conta da formação óssea. O pico de agregação dá-se por volta dos 12,5 anos para meninas e 14 anos para meninos.

Em 1997, a Academia Americana de Ciências de Washington, EUA, desenvolveu as DRIs (“Dietary Reference Intake”) para cálcio, magnésio, fósforo, flúor e vitamina D, nas diferentes faixas etárias, para manter o estado nutricional e promover resistência óssea.

Tabela 1: Recomendação de consumo de cálcio de acordo com a faixa etária  (DRIs)IdadeRecomendação de cálcio (mg/dia)0-6 meses2107-12 meses2701 – 3 anos 5004 – 8 anos 8009-18 anos 1300  19-50 anos 1000 > 51 anos 1200

Fonte: National Research Council. – Dietary Reference Intakes: applications in dietary assessment. Washington DC: National Academy Press, 2001.

A quantidade de cálcio absorvida pelo organismo é determinada pela ingestão e pela capacidade de absorção intestinal. Quando a ingestão é baixa, a absorção é alta, enquanto que na ingestão alta, a absorção é baixa. A absorção é dependente de pH ácido, por isso ocorre com maior intensidade no duodeno, e vai diminuindo no seguimento do intestino, à medida que a alcalinidade aumenta. A absorção do cálcio se processa por meio de dois mecanismos: a difusão passiva (por diferença do potencial eletroquímico) e transporte ativo (dependente de vitamina D).

O leite e seus derivados são as maiores fontes de cálcio da dieta, não somente porque o leite de vaca contém aproximadamente 1.2 g de cálcio por litro, mas também, porque contém compostos bioativos que otimizam essa absorção. A caseína, a lactose e o citrato, que estão naturalmente presentes no leite,  mantêm a solubilidade do leite no lúmem intestinal , enquanto a vitamina D facilita a sua absorção. O leite não contém nenhuma substância que inibe a absorção do cálcio no intestino, como oxalatos, fitatos ou polifenóis  (que são naturalmente presentes em muitos alimentos de origem vegetal que contêm cálcio).

Gosto muito de falar / escrever sobre lácteos e cálcio (porque foi o tema do meu mestrado e porque, nos últimos anos, eu trabalho bastante com alergia à proteína do leite de vaca) e devo trazer esse tema algumas vezes por aqui,  mas o  que me inspirou a escrever sobre esse assunto dessa vez,  foi uma imagem de uma tabela que vi algumas vezes pelo facebook. Nessa tabela estavam muitos alimentos fontes de cálcio e o brocoli, a  couve e a mostarda estavam destacados por apresentarem uma biodisponibilidade de cálcio maior do que a dos lácteos. Fiquei intrigada, como sempre fico quando vejo essa comparação, mas dessa vez (que bom!) a tabela estava referenciada. Busquei o artigo para entender essa tabela e daí veio a vontade de compartilhar esses achados.

O artigo esta disponível na plataforma scielo e tem livre acesso, para quem se interessar:

Em resumo, os autores afirmam que os lácteos são mesmo as maiores e melhores fontes de cálcio, mas que a avaliação de fontes alternativas se faz necessária, especialmente porque há casos em que o individuo não pode (alérgicos) ou prefere não consumir lácteos (veganos).

A tabela original do estudo é essa daqui:

E dela podemos entender que:

  1. Os lácteos são os alimentos que contêm maior quantidade de cálcio.

  2. Para comparar a absorção do cálcio de diversas fontes os autores utilizaram a absorção fracional (que é um cálculo que esta explicado em outra publicação). 

  3. Absorção fracional não é sinônimo de biodisponibilidade (quantidade que é absorvida e utilizada), mas é resultado de um cálculo que, resumidamente,  ajusta a fração de cálcio absorvível,  de acordo com a carga de cálcio presente no alimento.  

  4. Para biodisponibilidade pode-se multiplicar a absorção fracional pela quantidade de cálcio presente na porção comumente consumida do alimento.

Desta forma, temos que:

240mg de leite tem 96,3 mg de cálcio disponíveis (300mg de cálcio na porção X 32,1%)

e

71g de brócolis tem 21,5g de cálcio disponíveis (35mg de cálcio na porção x 61,3%)

Precisamos, portanto, de 4,5 porções de brócolis para atingir a quantidade de cálcio encontrada em 1 porção de leite.

Como podemos ver, é um cálculo matemático até que simples, mas se a informação da tabela for mal interpretada, teremos por aí a falsa informação de que o consumo de lácteos não é tão relevante assim para o aporte de cálcio.

Com relação às fases da vida os autores apontam que a absorção de cálcio tem uma autorregulação e é maior nas fases em que esse mineral se faz mais necessário. Ainda assim, destacam que se as crianças não consomem lácteos  ou se os ingerem em quantidades limitadas, estão em risco de deficiência de cálcio. Há na literatura muitos dados para corroborar essa informação. Sabemos, por exemplo, que crianças com alergia à proteína do leite de vaca estão sob maior risco nutricional e, caso permaneçam em dieta por longos períodos há um maior risco de fraturas. Nesses casos, a dieta deve ser cuidadosamente orientada (e monitorada) para que não haja prejuízo no crescimento e na agregação óssea.

Para os que não podem ou não querem consumir lácteos, é preciso ajustar as quantidades das fontes alternativas (vegetais, bebidas de soja com cálcio e bebidas de cereais com cálcio) e avaliar a necessidade de suplementação, especialmente na infância, durante a gestação e durante a lactação.

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