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O TRATAMENTO DA OBESIDADE NA ADOLESCÊNCIA PODE AUMENTAR O RISCO DE TRANSTORNOS ALIMENTARES?

Essa resposta pode ser sim se houver 2 fatores associados: predisposição genética/familiar e tratamento inadequado. Para entendermos esses riscos, vale a pena detalhar um pouco o cenårio atual:

  1. A obesidade é a doença crÎnica mais prevalente na população infantil. O tratamento deve ser instituído o mais precocemente possível porque hå muitas comorbidades associadas ao excesso de peso e algumas delas, como diabetes, hipertensão, dislipidemia, esteatose hepåtica, síndrome do ovårio policistico,  apneia do sono e problemas osteoarticulares,  jå aparecem na infùncia.

  2. Hå também um preocupação com o impacto psicossocial do excesso de peso, jå que hå associação entre obesidade infantil e maior risco de depressão, menor auto-estima e menor qualidade de vida.

  3. É grande a probabilidade de uma criança obesa tornar-se um adulto obeso, sendo de 20 a 50%, antes da puberdade, e de 50 a 70%, depois da puberdade.

OU SEJA, É PRECISO TRATAR!!! 

  1. A adolescĂȘncia Ă© o perĂ­odo em que hĂĄ maior risco para o aparecimento de transtornos alimentares e  as meninas sĂŁo muito mais afetadas do que os meninos.

  2. As complicaçÔes associadas aos transtornos alimentares sĂŁo reflexo das adaptaçÔes do organismo à desnutriçao ou aos maus hĂĄbitos relacionados ao controle do peso. Hipotermia, bradicardia e hipotensĂŁo sĂŁo os sintomas mais comuns quando hĂĄ rĂĄpida perda de peso, podendo ocorrer tambĂ©m pancreatite e pedras na vesĂ­cula. O uso de laxantes e a provocação de vĂŽmitos pode trazer distĂșrbios hidroletroliticos. A privação de energia interfere na produção hormonal e pode causar alteraçÔes menstruais e amenorreia, mesmo que o peso ainda esteja dentro da normalidade. Se a supressĂŁo do estrogĂȘnio continuar por longos perĂ­odos, hĂĄ um maior risco de osteoporose.

MAS QUAL É A RELAÇÃO ENTRE OBESIDADE E BULIMIA/ANOREXIA? 

É preciso tomar muito cuidado com as mensagens utilizadas no tratamento do excesso de peso. Embora nem todo adolescente com transtorno alimentar tenha sido obeso, a grande maioria começa essa jornada tentando comer de forma mais saudĂĄvel. Erroneamente, esse jovem acaba fazendo restriçÔes desnecessĂĄrias de alimentos que considera ruins e usando artifĂ­cios, como pular refeiçÔes e ficar muito tempo em jejum, que podem ser o gatilho para o transtorno, quando hĂĄ predisposição.

E QUAIS SÃO AS MENSAGENS QUE DEVEMOS EVITAR NO TRATAMENTO, OU MESMO NA PREVENÇÃO DO EXCESSO DEPESO? 

Em um artigo da Academia Americana de Pediatria, publicado recentemente (setembro/16) na Pediatrics, discute-se algumas açÔes frequentemente utilizadas para o manejo de peso em crianças e adolescentes.  Vejamos:

1. DIETA É CONTRAPRODUCENTE: VĂĄrios estudos mostram o efeito das dietas restritivas incrementando o risco de reganho de peso e de desenvolvimento de transtorno alimentar. Em um grupo de 6 882 estudantes, entre 9 a 14 anos, acompanhados por dois anos, observou-se que hĂĄbito de fazer dieta esteve fortemente associado ao risco aumentado de ganho de peso e de comer compulsivamente, tanto em meninas, quanto em meninos.  Outro estudo avaliou que se a criança pular refeiçÔes e restringir demasiadamente as calorias, tem 18 vezes mais chance de desenvolver transtorno alimentar.

Muitas vezes as famĂ­lias e os prĂłprios profissionais da saĂșde dĂŁo muitos reforços positivos quando a criança emagrece, enaltecendo a sua “força de vontade” ao “resistir aos alimentos”. Essa Ă© uma mensagem perigosa onde entende-se: Restrinja, emagreça, seja feliz!

Como , então, organizar a alimentação da criança? Claro que é o balanço energético é importante, mas, ao invés de pautar as orientaçÔes em calorias, peso, medidas, alimentos bons e alimentos maus, é interessante entender como é a alimentação dessa criança e organizar os horårios, sugerir trocas , estimular o consumo de alimentos e receitas e novas. Se o foco for a inclusão das novidades e não a restrição, hå mais chances de que o processo de reeducação alimentar seja mais leve, natural e definitivo.

2. AS CRIANÇAS NÃO FAZEM TANTAS  REFEIÇÕES QUANTO DEVERIAM COM AS SUAS FAMÍLIAS: Estudos sugerem que comer em famĂ­lia pode conferir uma proteção contra hĂĄbitos alimentares inadequados e tambĂ©m contra a obesidade. Em um programa de intervenção com incentivo para aumentar o nĂșmero de refeiçÔes em famĂ­lia, as crianças apresentaram redução de peso ao final do acompanhamento, alĂ©m das associaçÔes com a redução do sedentarismo e do tempo gasto em frente Ă s telas. Dentre as atividades propostas, as crianças relataram que cozinhar com a famĂ­lia, testar novas receitas e receber dicas de culinĂĄria foram as experiĂȘncias mais divertidas. Em um artigo de revisĂŁo, os autores descrevem algumas intervençÔes de incentivo do comer em famĂ­lia com o objetivo de promover hĂĄbitos saudĂĄveis e prevenir a obesidade. As abordagens sĂŁo diversas e incluem orientaçÔes no lar, em grupos comunitĂĄrios, no ambiente de trabalho, nos consultĂłrios e atĂ© na internet. Por conta da falta de homogeneidade metodolĂłgica Ă© difĂ­cil avaliar os resultados de uma maneira integrada. E, de modo geral, embora haja experiĂȘncias exitosas, os autores identificaram uma sĂ©rie de barreiras que podem atrapalhar o seguimento das orientaçÔes e que podem servir de base para pautar açÔes futuras. Dentre elas: falta de tempo dos pais, muitas atividades de trabalho, excesso de atividades da criança e questĂ”es relacionadas a estrutura familiar e a dados sĂłcio-econĂŽmicos. 

Porque comer em familia? Nessa fase da vida, o nĂșcleo familiar tem fundamental importĂąncia para a formação dos hĂĄbitos alimentares, a medida que os pais compartilham das primeiras experiĂȘncias alimentares da criança e, durante toda a infĂąncia, sĂŁo os provedores e os responsĂĄveis pela organização da dinĂąmica alimentar da famĂ­lia. Em geral, os adultos fazem melhores escolhas do que os adolescentes, alĂ©m disso, compartilhar esse tempo Ă  mesa Ă© uma oportunidade de interação que traz benefĂ­cios, muito alĂ©m das escolhas alimentares.

3. FALAR SOBRE PESO É CONTRAPRODUCENTE: Evite comentĂĄrios acerca do prĂłprio peso ou sobre o peso da criança/adolescente. Mesmo que bem intencionados, esses comentĂĄrios sĂŁo inĂșteis, podem trazer tristeza e desapontamento com a autoimagem e, por fim,  podem criar um juĂ­zo de valor que incrementa o risco de transtornos alimentares.

Como avaliar? Claro que o profissional pode avaliar o peso ou quaisquer outras medidas (eu mesma avalio e acho super importante ter essas informaçÔes!), mas  o sucesso no tratamento da criança obesa nĂŁo Ă© medido pelo nĂșmero absoluto de peso perdido (atĂ© porque a criança tambĂ©m cresce e se desenvolve), mas sim, pelas metas comportamentais que sĂŁo atingidas. O emagrecimento Ă© a consequĂȘncia natural dessas mudanças que devem ser mantidas a longo prazo.

4. FAZER GOZAÇÃO COM O PESO É CRUEL: Nos artigos cientĂ­ficos vemos um termo que traduz bem esse comportamento tĂŁo comum entre as crianças e mesmo entre os familiares: “weight teasing”. Essas brincadeirinhas com o excesso de peso e os apelidos que denotam a gozação sĂŁo relatados por cerca de 40% dos adolescentes obesos. Esses comentĂĄrios podem magoar e estudos apontam que hĂĄ mais chances desses adolescentes se utilizarem de estratĂ©gias radicais para perda de peso , e ainda,  de desenvolverem compulsĂŁo alimentar.

O que fazer? Não use apelidos pejorativos acerca do peso do seu filho. Não permita que outros familiares o façam. Ensine seus filhos a tratar os colegas com respeito. Mantenham o diålogo aberto, sempre.

5. NÃO ODEIE SEU CORPO: Metade das meninas e um quarto dos meninos relatam insatisfaçao com a imagem corporal e esses nĂșmeros sĂŁo maiores entre os adolescentes com excesso de peso. Claro que esse Ă© um fator de risco importante para o desenvolvimento de transtornos alimentares, mas tambĂ©m Ă© um fator que diminui a predisposiçao para a prĂĄtica de atividade fĂ­sica.

Porque devemos encorajar a autoestima? Os adolescentes que estão mais satisfeitos com a imagem corporal tendem a atitudes mais positivas para o manejo de peso, buscando fazer exercício e escolhas alimentares saudåveis, no lugar de dietas restritivas e jejuns prolongados.

Pra finalizar, é importante deixar claro que tratar e prevenir a obesidade infantil não predispÔe a transtornos alimentares se a condução for adequada. Ao contrårio, estudos mostram que programas de intervenção bem delineados diminuem o risco de atitudes purgativas (vÎmitos, laxantes) e de comportamentos compensatórios.

De maneira geral,  o tratamento da criança e do adolescente é pautado em mudanças sustentåveis de estilo de vida e deve, necessariamente, ser extensivo a família. Os pais devem ser bons modelos, facilitar o acesso aos alimentos saudåveis  no dia a dia e limitar as extravagùncias e guloseimas para os dias especiais. Também é preciso conversar com os pais sobre a possibilidade de fazer atividades físicas programadas e limitar o tempo de tela.

Atitudes valem mais do que mil palavras!

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